Imagine um pai idoso sem condições de prover o seu próprio sustento. Ele tem um único filho e este é economicamente ativo e mesmo assim não o ampara voluntariamente. Resta ao pai recorrer à justiça para sobreviver. A justiça obriga o filho a sustentar seu pai idoso. O filho, cumprindo uma ordem judicial, coloca seu pai num asilo. Seu pai é apenas uma despesa obrigatória em seu contra-cheque. Eu pergunto:Qual o mérito desse filho? Eu respondo: Nenhum! O único mérito dele é de ter um emprego, de ter uma renda, o que não seria necessariamente um mérito, pois ele trabalharia tendo ou não um pai.
O inverso dessa história acontece com milhões de filhos. Eles ainda não têm condições de se sustentarem sozinhos e, por terem uma mãe corajosa que os representou perante a justiça, conseguiram receber uma pensão imposta por um juiz. Eles são apenas uma despesa registrada no contra-cheque do pai que o incomoda bastante, porque quem administra a pensão é a mãe. Não há relacionamento, não há sequer uma ligação de parabéns na passagem de aniversário dos filhos. E a vida segue… Onde está o mérito deste pai? Em lugar nenhum. Os filhos são cuidados pela mãe e têm como pai a justiça. A justiça não é uma pessoa, é apenas uma instituição fria e em geral lenta! Ela não tem sentimentos e nem consegue enxugar as lágrimas dos filhos pela ausência do pai. O que eles queriam era um pai, mas o que a justiça lhes garante é o sustento financeiro e eles devem agradecer por isso! O Pai idoso no asilo deve agradecer pela justiça. O filho pensionista deve agradecer pela justiça. O destino transforma o pai pagador num pai idoso precisando de um filho. Mas ele encontrará somente a justiça, nada mais que a justiça, ainda bem que a fria justiça ainda mata a fome de filhos e de pais abandonados transformando ambos apenas num item do contra-cheque. Quanto ao amor, ele morreu onde deveria nascer – no coração paterno. Ele foi assassinado onde deveria florescer – no coração dos filhos! Duas gerações não saberão o que é amar, mas saberão pelo menos pra que serve a justiça!
E o mérito? Nem pais nem filhos poderão reivindicá-lo! O “cuidado” que é fruto de uma obrigatoriedade, de uma imposição, de uma sentença judicial, nunca terá mérito. Servirá apenas para envergonhar quem do mérito abriu mão!
(Adriana Garcia)